sábado, 22 de agosto de 2009

Coragem





O medo sempre foi algo que me atormentou desde criança.


Lembro-me de acordar no meio da noite sentindo uma sempre uma presença estranha no meu quarto, é claro, papai sempre ia dormir comigo apesar dos apelos mal educados de minha "santa" mãe para que ficasse no quarto, porque eu teria de aprender a lidar com isso sozinha. Em algumas vezes, ele cedeu e em outras não. O tempo passou, algumas batalhas eu enfrentei sozinha, mas ele é meu "bom amigo", aquele que eu sempre terei ao meu lado para ultrapassar meus próprios limites. Não meu pai, mas sim o medo.


O fato é que, como aprendi no budismo e na prática da vida diária, todos os nossos medos podem ser utilizados a nosso favor. Então, todo covarde é um corajoso em potencial. Existem momentos na nossa vida que os fatos vêem a tona para que resolvamos e sigamos em frente, um pouco mais corajosos e inspirados pela esperança de que dia após dia conseguimos ultrapassar nossas próprias crenças erroneas de que somos menos quando na verdade somos muito, muito mais poderosos.


Nelson Mandela, em seu poema, Nosso Medo descreve perfeitamente o poder de cada ser humano e quanto nós não aproveitamos e acreditamos em nosso pleno potencial.


A edição nº 82 da Revista Vida Simples (muito boa diga-se de passagem), possui uma reportagem sobre coragem que recomendo a vcs. Seguem alguns trechos compilados para colocar um poquinho de água na boca e servir de combustível para enfrentar esse grande vilão que nos paraliza, aleja e nos consome por diversas vezes. Palavra de covarde com um ótimo potencial para corajosa...Boa leitura !!!!



ATO CORAJOSO



"Um ato corajoso é resultado de um julgamento consciente. E julgar significa avaliar e analisar os caminhos possíveis diante de uma determinada situação. Um ato corajoso envolve capacidade de análise, equilibrio e responsabilidade." Quer dizer, se realmente vou ultrapassar um limite, eu faço conscientemente e não apenas no impulso. Nessa concepção, a coragem tem muito mais peso e importância. "Esse tipo sem muita consciencia pode existir, por exemplo, num ato resultante de um reflexo instantâneo que salvou alguém de uma atropelamento. Mas, ela ainda é primitiva, não tem tanto valor, exatamente porque não é, muito consciente. Ou, simplesmente uma presença de espirito, um expediente que deu certo, como podia, não ter dado"...



..."A coragem mais profunda é umprocesso de coscientização que tem a ver com ousadia, conhecimento, determinação e capacidade de analise das variáveis. Ou seja, a coragem é ativa e não reativa. "E, nesse sentido, todos nós somos corajosos. Se chagamos a idade adulta, é porque optamos por milhares de taos conscientes e cheios de coragem que permitiram nossa sobrevivencia. A coragem é um atributo comum a todos os serem humanos, e não uma qualidade de poucos. Somos todos heróis e vencedores, não porque fizemos extraordinários gestos grandiosos, mas simplesmente porque estamos vivos!".




"Acontece que nossa memória tem o habito de registrar com mais força e precisão as lembranças mais dolorosas - simples estratégias de sobrevivência para evitar que a gente caia no mesmo buraco escuro. E, aí, nos recordarmos só de nossos fracassos acreditamos que somos medrosos, covardes, impotentes. Por isso, um dos primeiros passos para se livrar dessa autoimagem mas das superações de limite feitas no passado. Vale até a vez que vc teve o peito de tirar as rotinhas da bicicleta".


A PRESENÇA DO MEDO



"A gente leva uma bordoada daqueleas da vida e fica assim, igual a um cachorrinho, com o focinho baixo e o rabo enconstado na barriga. Além de ficar com uma baita medo de erguer a cabeça outra vez. Vai que lá vem bodoada de novo... É assim que estagnamos.


"A pessoa pode estar ainda aflita e temerosa, mas a coragem de enfrentar a situação temível já é um passo para ultrapassar os traumas. A lição de ouro dessa estória é : não exstem coragem sem medo. Se não tiver medo, não é coragem."





sábado, 30 de maio de 2009

A Louca da Casa - Parte II


Conforme prometido, segue a segunda parte do post.
Bjos,
P.




  • "Hoje chego a considerar essas crises como um verdadeiro previlégio, porque foram uma espécie de viagem extramuros, uma pequena excursão turística pelo lado selvagem da consciência. Minhas agústias me permitiram espreitar a escuridão; e somente se você já esteve lá, ainda que superficial e brevemente como eu estive, pode entender o que significa viver do outro lado. Naquele lugar aterrador aonde os outros não chegam, exilado da realidade comum, encerrando no silêncio e em você mesmo. Minhas angústias, enfim, me tornaram mais sábia".



  • "A essencia da loucura é a solidão. Uma solidão psiquica absoluta que produz um sofrimento insuportável. Uma solidão tão superlativa que não cabe dentro da palavras solidão e que não pode ser imaginada por quem não a conheceu. è como estar enterrado vivo no interior de um túmulo."



  • " A loucura é viver no vazio dos outros, numa ordem que ninguém compartilha"




  • Porque os seres humanos não apenas são menores que seus sonhos, também são menores que suas alucinações. A imaginação sem freio é como um raio no meio da noite: abrasa mas ilumina o mundo. Enuqnato dura essa faísca deslumbrante, tentamos vislumbrar a totalidade, aquilo que alguns chamam de Deus e que para mim é uma baleia orlada de crustáceos,"


  • "Sonhamos, escrevemos e criamos para isso, para tentar tocar na beleza do mundo..."



  • "Assim todos passamos a vida, com saudades daquilo que é maior que nós, o pó de estrelas que fomos um dia."

segunda-feira, 18 de maio de 2009

A Louca da Casa

Nas minhas andanças pelas livrarias procurava por algo que me trouxesse de volta a inspiração perdida. Nada íor do que ter uma mente árida e um coração oco. Buscando aqui e acolá me deparei com esse título sugestivo (principalmente, ao que diz respeito a personalidade desta que vos descreve) e pela capa do livro que é maravilhosa. Uma menina de vestidinho rosa entre tantas outras de vestimenta cinza.
O livro de Rosa Montero acima mencionado nos leva a uma narrativa gostosa como quem conta uma estória antiga. Os assuntos abordados são diversos, mas a ênfase principal foca o processo criativo do escritor.
Postarei os trechos, que é claro, me tocaram mais profundamente. (Serão diversos posts, pois ainda não terminei o livro...).
"Não acredito em magia, não sou supersticiosa e não pretendo dizer que se pode aproveitar a escrita de um romance para fazer vodu destinado a algum inimigo. Mas, acredito no mistério, ou seja, acho que a vida é um mistério descomunal do qual só arranhamos a casquinha, apesar das nossas pretenções de grandes cérebros. Na verdade não sabemos quase nada : e a pequena luz dos nossos conhecimentos é rodeada (ou melhor, sitiada, como diria Conrad) por um tumulto de agitadas trevas. Também acredito, e continuo com Conrad, na linha de sombra que separa a luz da escuridão; em margens confusas e fronteiras incertas. Em coisas inexplicáveis que nos paracem mágicas só porque somos ignorantes. O romance se dá numa região turva e escorregadia; em torno de um romance sempre acontecem as coisas mais estranhas. Como por exemplo as coincidências."
"O sucesso angustia, porque não é um objeto que você possa possuir nem trancar num cofre. De fato, o sucesso é um atributo do olhar dos outros, os quais, repentinamente e de maneira na verdade nastante arbitrária, decidem olhar para você com placidez e agrado, dando-lhe o incerto de presente e agrado, dando-lhe o incerto presente de considera-lo bem sucedido. Uma vez situado sobre esse feixe de luz proveniente do olhar dos outros,os seres humanos costumam desejar que a lâmpada não se apague, e isto nos deixa numa situação de fraqueza e dependência, porque não sabemos direito o que fazer para que o refletor continue brilhando. Tais tribulações, que me parecem gerais para qualquer tipo de sucesso, creio que são ainda piores no caso dos escritores, primeiro porque, como já disse, somos uns coitados especialmente carentes do olhar alheio, e em segundo lugar porque, quando começamos a escrever para agradar a esse olhar em vez de seguir os ditames do daimom, como dizia Kipling, então todo o nosso possível talento, pequeno ou médio, vira fosfina e o que escrevemos se transforma em lixo".
"Queria tudo. E querer tudo é o mesmo que não querer nada; algo tão grande que não se pode abarcar".
"Tenho a sensação de que não se pode escrever direito se você transforma a sua vida numa mentira; há autores que foram verdadeiros miseráveis em sua existência e no entando produziram obras maravilhosas, mas provavelmente não mentiam para si mesmos: deviam ser malvados mas consequentes; ou seja, é possível que a mentira seja o verdadeiro antídoto da crianção. Mas, talvez seja o contrário : quem sabe sua vida não vai a pique porque você transforma a sua vida numa mentira."
"...Para escrever, enfim, vale a pena continuar sendo criança em alguma região de si mesmo. Vale a pena não crescer demais..."
"...Quero dizer que escrevemos na escuridão, sem mapas, nem bússola, sem sinais reconhecíveis do cominho. Escrever é flutuar no vazio."
"...O tesouro das experiências não passa de uma caixinha de bijouterias..."
.."É melhor morrer com dignidade mas sem dar testemunho do ocorrido, ou é preferível ficar vivo a qualquer preço e em compensação contar, lembrar, denunciar...Não creio que alguém escolha viver para poder contar: na verdade, você se aferra cegamente à vida porque é um animalzinho apavorado com a morte."

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Contos de Eva Luna - Isabel Allende


Os Contos de Eva Luna são narrativas permeadas pela surrealidade, calor dos trópicos e a cultura peculiar do local. Eva Luna partilha conosco as estórias e a beleza dos personagens. E eu, partilho com voces, alguns fragmentos. Divirtam-se!


Duas Palavras

"Ela começou a lhe explicar que, por cada cinquenta centavos que um cliente paga, oferecia-lhe uma palavra de uso exclusivo. O chefe encolhei de ombros, porque não tinha o menor interesse na sua oferta, mas não quis ser indelicado com quem o servira tão bem. Ela se aproximou sem pressa da cadeira de couro em que ele estava sentado e inclinou-se para dar-lhe seu presente. Então o homem sentiu o cheiro de animal montês que saia daquela mulher, o calor de incêndio irradiado pelo quadris, o roçar terrível de seus cabelos, o hálito de hortelã-pimenta sussurrando-lhe ao ouvido as duas palavras secretas a que tinha direito.
- São suas, Coronel - disse ao se retirar. - Pode usa-las como quiser.
Mulato acompanhou Belisa até a beira do caminho....
E, em todas as ocasiões em que as duas palavras lhe vinham a mente, evocava a presença de Belisa Crepusculário, e excitavam-se-lhe os sentidos com a recordação do cheiro montês, o calor de incêndio, o roçar terrível e o hálito de hortelã pimenta, até que começou a andar como um sonâmbulo, e seus homens compreenderam que se lhe tinha acabado a vida antes de alcançar a cadeira dos presidentes.....
- Coronel, trou esta bruxa para que lhe devolva suas palavras e para que lhe devolva a hombridade - disse, apontando o cano da espingarda para a nuca da mulher.
O Coronel e Belisa Crepusculario olharam-se longamente, medindo-se a distância. Os homens compreenderam, então, que seu chefe já não se podia desfazer do feitiço das palavras endemoninhadas, porque todos puderam ver olhos carnívoros do puma tornarem-se mansos quando ela avançou-lhe e lhe pegou a mão."

Um Presente para Uma Noiva

"- Nem sequer me olha, avô! Érica, bela e nobre, tem tudo!

- É isso....e também tem marido!

- Também, mas isso tanto faz! Se pelo menos, me deixasse falar-lhe!

- Falar-lhe? Pra que? Não há nada a dizer a uma mulher como esta, filho!

- Oferece-lhe um colar de rainha, e ela o devolveu sem uma única palavra.

- Da-lhe qualquer coisa que ela não tenha!

- O que, por exemplo ?

- Um bom motivo para rir, isso nunca falha com as mulheres.

E o avô adormeceu com o fone na mão, sonhando com as donzelas que o tinham amado quando fazia acrobacias mortais no trapézio e dançava com a sua macaca.....

Sozinha em casa, sem vontade de sair e com certa dor de cabeça que ia e vinha sem descanço, Patricia decidiu que ia dedicar o sábado a recuperar as forças...Nisso ouviu um rumor no jardim...Tirou os óculos esuros e pos-se em pé.....
Ao fundo do jardim apareceu o resto da companhia : os músicos da banda tocando marchas militares, os palhaços as bofetadas uns nos outros, os anões das cortes medievais, a amazona de pé sobre o cavalo, a mulher de barba, os cães de bicicleta, o avestruz vestido de colombinae, por fim uma fila de pugilistas com seus calções de cetim e luvas de boxe, empurrando uma plataforma com rodas coroada por um arco de cartão pintado. E, aí sobre esse estrado de imperador da fanfarronicie, estava Horácio Fortunato, com a cabeleira penteada com brilhantina, o impecável sorriso de galã, vaidoso sob seu pórtico triunfal, rodeado por seu incrível circo, aclamado pelas trombetas e pratos de sua própria orquestra, o homem mais soberbo, mais apaixonado e mais divertido do mundo. Patrícia deu uma gargalhada e foi ao seu encontro."

Walimai
"O nome que meu pai me deu é Walimai, que, na língua dos nossos irmãos do norte que dizer vento...Deve-se ter muito cuidado com o nome das pessoas e dos seres vivos, porque ao pronuncia-los, toca-se o seu coração e fica-se dentro da sua força vital. Assim saudomo-nos como parentes de sangue. Não entendo a facilidade que os estrangeiros tem para se chamar uns aos outros sem uma ponta de receio, o que não só é falta de respeito como também pode ocasionar graves perigos. Já notei que essas pessoas falam com a maior leviandade, sem se dar conta de que falar é tambem ser. O gesto e a palavra são o pensamento do homem.....

Ela era da tribo dos Ila, os de coração doce, de onde vêm as moças mais delicadas....Estava nua sobre uma esteira, amarrada pelo tornozelo a uma corrente fixa no chão, adormecida como se tivesse aspirado pelo nariz o yopo da acácia, tinha o cheiro doce dos cães doentes e estava molhada pelo orvalho de todos os homens que tinham estado em cima dela antes de mim....Deixei minha faca no chão, e saudei-a como irmã, imitando alguns cantos de pássaros e o ruído dos rios. Ela não respondeu. Bati-lhe com força no peito para ver se seu espírito ainda ressoava no meio de suas costelas. mas não ouve eco; sua alma estava muito débil e já não podia me responder. De cócoras a seu lado, dei-lhe de beber um pouco dágua e falei-lhe na língua de minha mãe. Ela abriu os olhos e olhou longamente. Compreendi....Inclinei-me sobre a mulher com o instrumento envenenado, e abri-lhe um corte no pescoço...Ela me olhou com grandes olhos, amarelos como o mel, e paraceu-me que quis sorrir agradecida...Aproximei minha orelha de sua boca, e ela murmurou seu nome...

Senti imediatamente que o espírito saia pelas narinas e entrava em mim, agarrando-se ao meu esterno. Todo o peso delacaiu sobre mim, e tive de fazre algum esforço para me por em pé, porque me movia com dificuldade, como se tivesse debaixo dágua.... O guerreiro que carrega o peso de outra vida humana deve jejuar durante dez dias, a fim de enfraquecer o espirito do defunto, que finalmente se desprente e vai para o território das almas....Durante uma volta completa da lua entrei pela selva adentro, levado a alma da mulher, que cada dia pesava mais. Falávamos muito. A língua dos Ila é livre e soa debaixo das árvores como um longo eco. Comunicamo-nos um com o outro cantando, com todo o corpo, com os olhos, a cintura e os pés...Escolhi um lugar perto de um fio dágua, levantei um telgado de folhas e fiz uma rede para ela, com tres grandes pedaços de casca. Com a faca raspei a cabeça e comecei o jejum....

Durante o tempo que caminhamos junto, a mulher e eu amamo-nos tanto, que já não desejávamos seperar-nos, mas o homem não é o dono da vida, nem sequer da suam por isso tive que cumprir minha obrigação....No dédimo segundo dia sonhei que ela voava como um tucano por cima das copas das árvores e acordei com o corpo muito leve e com vontade de chorar...Aprendi, então, que, algumas vezes, a morte é mais poderosa do que o amor."

Um Caminho Para o Norte

"- Que vamos fazer, avô ? - perguntou ela ao sair.

- Criá-lo, é claro.

- Como ?

- Com paciência, como se treinam os galos ou se armam calvários em garrafas. Coisa de tempo, olho e coração. "

Vida Interminável

"Há estórias de todas as espécies. Algumas nascem ao ser contadas; sua substancia é a linguagem, e enates que alguém as ponha em palavras, são apenas uma emoçãom um capricho da mente, uma imagem ou uma reminiscencia intangível. Outas chegam completas, como maças, e podem repetir-se até o infinito sem risco de ter seu sentido alterado. Existem umas que são tomadas pela realidade e processadas pela inspiração, enquanto outras nascem de um instante d einspiração e se transformam em realidade ao serem contadas. E há histórias secretasa que permanecem ocultas nas sombras da memória; são como os organismos vivos, nascem-lhe raízes, tentáculos, enchem-se de aderencias e parasitas e, com o tempo, transformam-se em matéria de pesadelos. Por vezes, para exorcizar os demônios de uma recordação, é necessário conta-la como um conto..."